quarta-feira, 7 de junho de 2017

ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM OU PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS (4) 
(SANTANNA & MENEGOLLA, 1991).

DINÂMICAS DE GRUPO

Ao analisarmos a utilização de estratégias envolvendo um grupo de alunos, seja pequeno ou grande, o primeiro aspecto a que precisamos estar atentos é o fato de tratar-se de técnicas coletivas. O que isto quer dizer: elas deverão trazer algumas vantagens diferentes das técnicas usadas para aprendizagens individuais e colaborar para outras apren­dizagens que não seremos capazes de obter apenas individualmente.
Quais são estes objetivos que poderemos desenvolver?
   A capacidade de estudar um problema em equipe, trazendo sua colaboração, ouvindo as contribuições dos colegas, debatendo e discutindo os vários aspectos do tema, relacionando-os com seus conhecimentos e suas experiências, ampliando seu universo intelectual, de tal forma que, ao término do trabalho em grupo, cada participante possa ter avançado e apren­dido mais com relação ao tema em pauta do que se tivesse estudado sozinho.
A capacidade de discutir e debater, superando a simples justaposição de ideias. Com efeito, para que cada um exponha suas ideias a outros e depois se faça uma síntese dessas contribuições não há necessidade de dinâmica de grupo. É só solicitar que cada um coloque numa folha de papel suas ideias para que depois então as reunamos em um texto comum. Portan­to, para que tenhamos um trabalho de grupo é fundamental a discussão, o debate, e chegar-se a um ponto mais avançado e significativo da aprendizagem, para além daquele aonde se chegaria sozinho.
Aprofundar a discussão de um tema, chegando a conclusões. Para isso supõe-se sempre uma preparação prévia de estudo indi­vidual sobre o tema a ser discutido. Se, de um lado, as expe­riências e os conhecimentos prévios dos alunos sobre o assunto são interessantes para o debate, uma preparação ime­diata com leituras indicadas pelo professor ou sugeridas pelo aluno com aprovação do professor é fundamental para o êxito da dinâmica de grupo. A ausência dessa preparação faz com que o encontro dos grupos, por vezes, se transforme num bate-papo sem interesse e sem perspectiva de maiores aprendi­zagens. Pela mesma razão é desaconselhável que se permita ao aluno que não preparou o material participar da atividade de grupo. Ele poderá se aproveitar das contribuições dos outros, mas não trará a sua própria colaboração e, em geral, atua mais no sentido de dispersão do grupo. A sugestão, se o aluno não preparou o material proposto, é no sentido de que o faça, em particular, durante o período da atividade de grupo, a fim de se encontrar apto para aproveitar a continuidade das atividades.
   Aumentar a flexibilidade mental mediante o reconhecimento da diversidade de interpretações sobre o mesmo assunto.
Ter oportunidade de desenvolver sua participação em grupos, sua verbalização, seu relacionamento em equipe e sua capaci­dade de observação e crítica do desempenho grupal.
   Confiar na possibilidade de aprender também com os colegas (além do professor) e valorizar os feedbacks que eles podem lhe oferecer para a aprendizagem.
   Valorizar o trabalho em equipe, hoje uma das exigências para a atividade de qualquer profissional.
Antes de descrever algumas dinâmicas de grupo, acredito ser im­portante fazer ainda uma consideração: na maioria das vezes os profes­sores "mandam" que os alunos façam uma atividade em grupo. Isso aconteceu no ensino fundamental, no ensino médio e se repete no en­sino superior. Em nenhum desses momentos houve preocupação de que os alunos aprendessem a trabalhar em grupo, não lhes foi ensina­do um conjunto mínimo de regras necessárias para que um grupo possa funcionar bem. E, então, quando as atividades grupais não saem a contento do professor, este é o primeiro a dizer: "É, trabalho em grupo não adianta mesmo. O melhor é dar aula expositiva!".
Certamente conhecemos uma vasta literatura sobre dinâmicas de grupo que contém algumas regras básicas para se realizar bem a atividade grupal. Mas penso que vale a pena, nesse espaço, conside­rarmos ao menos algumas das regras básicas para o bom funciona­mento de um grupo:
Que todos os participantes tenham muita clareza sobre qual é o objetivo daquela atividade em grupo; onde se pretende chegar? Para ga­rantir tal clareza, sugere-se que alguém do grupo verbalize o objetivo e ele seja discutido até que se tenha um consenso sobre ele. Se hou­ver muita dificuldade, o professor deve ser chamado para explicar melhor o objetivo. Esse ponto é fundamental para se evitar a disper­são e o fato de cada aluno apresentar suas contribuições num sentido diferente do outro.
Que se distribuam junções entre os participantes:
Um coordenador que esteja atento para que rodos possam se manifestar e a palavra não seja monopolizada por um ou al­guns dos membros do grupo, administre o tempo dado para evitar que este se esgote e o grupo não chegue ao objetivo esperado, quando necessário corte a palavra de alguém, estimule outro a participar, evite repetições (ficar "amassando barro"), empreste dinamismo à discussão. Sua função não é responder às questões ou dar as respostas esperadas, embora possa e deva participar também como outro membro qualquer do grupo;
Um relator que anote as manifestações dos participantes, alerte quando as repetições se fizerem presentes, organize as ideias e primeiras conclusões de tal forma que facilite a elaboração de um relatório final;
Um cronometrista para acompanhar o tempo para a atividade, não permitindo que a tarefa fique inconclusa por distração quanto ao tempo.
Que cada participante do grupo se disponha a ouvir seu companheiro de tal forma que suas contribuições sempre deem continuidade ao que se manifestou antes, procurando levar o assunto adiante e não tomar uma atitude de repetição do que já foi discutido anteriormente.
Que a discussão do grupo em suas ideias principais e nas suas con­clusões de grupo seja registrada em um relatório por escrito ou em outra forma. Com efeito, esse relatório é a materialização dos resultados obtidos e dos avanços do grupo na discussão proposta. Quando ele não se faz, ou "não é solicitado pelo professor", as ideias, discussões e conclusões ficam soltas no ar, o que dificulta perceber se o objetivo do grupo foi alcançado ou não e até onde se avançou. O grupo, o professor e os colegas dos outros grupos ficam sem este feedback, o que nos impede de avaliar a aprendizagem.
Em qualquer dinâmica de grupo, se observarmos ao menos essas poucas regras e as colocarmos em prática vamos perceber, nós e os alu­nos, que o trabalho de grupo pode ser muito eficiente e eficaz e ajudar de modo significativo a aprendizagem, a ponto de os alunos se moti­varem a se preparar anteriormente para não perdê-las. É o que diz mi­nha experiência de mais de 30 anos de docência no ensino superior.
Vamos considerar alguns exemplos de dinâmicas de grupo:
 Pequenos grupos com uma só tarefa
Divide-se a classe em pequenos grupos e se atribui a cada um a mesma tarefa, por exemplo, responder a uma ou duas questões sobre um texto lido apresentadas pelo professor; estudar o mesmo caso e dar-lhe uma so­lução; fazer uma síntese de um mesmo texto, e assim por diante. Trata-se de uma forma bem simples de se começar a desenvolver com uma classe a habilidade de trabalhar em equipe. Em geral, fe­cha-se a atividade com a apresentação em plenário das tarefas reali­zadas por todos os grupos, com base nas quais os próprios alunos e o professor fazem comentários que completam as respostas, corrigem-nas, ou ampliam-nas.
Uma forma simples, mas que dinamiza uma aula, é solicitar que no decorrer desta se leia um texto e formem-se duplas. Para cada uma o professor entrega uma pergunta a ser respondida em tempo curto, por exemplo, dez minutos. Findo o tempo, o professor pede que cada dupla leia a sua pergunta, responda-a e em seguida ele pode abrir para comentários do grupo todo e inclusive para sua participação. Poderá fazer link com outras perguntas que virão, pedirá que quem tem questão próxima ou parecida se apresente para lê-la com a devida res­posta, e assim por diante. Ao final de todas as respostas, a turma terá estudado o assunto de modo mais proveitoso do que se apenas ouvisse o professor falar sobre ele.
 Pequenos grupos com tarefas diversas
A turma é divi­dida em pequenos grupos, sendo que cada um realizará uma atividade diferente; em geral, as atividades se completam ou se contradi­zem, entrando em conflito e exigindo um debate posterior em seu fechamento. Por exemplo, sobre um assunto qualquer o professor apresenta dois ou três artigos ou autores que pensam de modo dife­rente e pede que um grupo resuma os pontos teóricos centrais de cada autor ou de cada teoria; para outro grupo se pedirá que levante experiências concretas referentes ao tema em discussão; a um terceiro, que aponte questões importantes que merecem ser ouvidas, dis­cutidas por toda a classe. O fechamento dessa técnica deverá trazer a plenário os aspectos diferentes que, debatidos, integrarão a compreensão do assunto e enriquecerão as experiências dos alunos, facilitan­do um encaminhamento para aplicações concretas.

PAINEL INTEGRADO OU GRUPOS COM INTEGRAÇÃO HORIZONTAL E VERTICAL

Trata-se de uma técnica que favorece em muito a participação dos alunos. Ela se realiza em três momentos. No primeiro, divide-se a classe em grupos de cinco ou no máximo seis elementos. Indica-se a tarefa a ser realizada e o tempo que poderá ser gasto para tanto. Por exemplo, cada grupo deverá ter lido e discuti­rá um capítulo de um livro. O resultado da discussão deverá ser anota­do por todos, e distribui-se entre os membros do grupo um número de l a 5 ou l a 6.
No segundo momento reúnem-se os números l de todos os grupos, os números 2, 3, 4, 5, 6, formando-se agora novos grupos que realizarão duas outras atividades: trocar informações relatando o que aconteceu no primeiro grupo e fazer nova discussão. A troca de informações é garantida pela presença de um componente que parti­cipou da discussão do primeiro momento e trouxe para este grupo as conclusões do grupo anotadas. As conclusões serão explicadas e dis­cutidas e poderão até ser modificadas pelo novo grupo à luz das ou­tras questões que lhe serão trazidas.
A nova discussão acontecerá ou mediante uma nova questão apresentada pelo professor, ou como resultado dos debates sobre as questões já estudadas. Normalmente, o professor sugere um ponto mais amplo que possa englobar as várias discussões e leve o assunto para um âmbito mais geral.
O terceiro momento será o do professor. Com efeito, durante o segundo momento, o professor se colocará em algum dos grupos reunidos e ouvirá, sem participar da discussão, o que estará sendo trazido de cada um dos grupos anteriores para esse novo grupo. Dessa forma ele estará se informando sobre o que está sendo traba­lhado em todos os grupos. De posse dessa informação, o professor decidirá se deve intervir e como intervir: corrigindo alguma infor­mação incorreta, sublinhando outras, ampliando terceiras, debaten­do pontos que ficaram obscuros.
Para o bom funcionamento da técnica é importante que o pro­fessor tome alguns cuidados de organização: uma previsão adequada e um controle rígido do tempo de cada momento, que o tipo de dis­cussão a ser realizado possa ser acompanhado igualmente por todos os participantes, que cada participante saia do primeiro grupo com anotações sobre as conclusões que deverá levar para o segundo gru­po, uma vez que não se pode confiar apenas na memória. Aliás, o papel de levar informações corretas de um grupo para outro mani­festa a responsabilidade do aluno para com o grupo.
Essa estratégia apresenta algumas vantagens: exige a participação de todos, pessoal e grupai, e desenvolve a responsabilidade pelo processo de aprendizagem próprio e do colega; é uma técnica que pode ser usada com classes pequenas e com classes numerosas: sempre serão cinco ou seis alunos trabalhando em grupo; o professor, acompanhando qual­quer grupo do segundo momento, saberá o que está sendo informado em rodos os grupos e poderá completar, corrigir ou aperfeiçoar; é uma forma de naturalmente se quebrarem "as panelas" existentes nas tur­mas, levando aleatoriamente os alunos a se encontrarem com colegas junto aos quais até esse instante não haviam trabalhado e que nem conheciam.


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