ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM OU PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS (4)
(SANTANNA & MENEGOLLA, 1991).
DINÂMICAS DE GRUPO
Ao analisarmos a
utilização de estratégias envolvendo um grupo de alunos, seja pequeno ou
grande, o primeiro aspecto a que precisamos estar atentos é o fato de tratar-se
de técnicas coletivas. O que isto quer dizer: elas deverão trazer algumas
vantagens diferentes das técnicas usadas para aprendizagens individuais e
colaborar para outras aprendizagens que não seremos capazes de obter apenas individualmente.
Quais são estes
objetivos que poderemos desenvolver?
A
capacidade de estudar um problema em equipe, trazendo sua colaboração, ouvindo
as contribuições dos colegas, debatendo e discutindo os vários aspectos do
tema, relacionando-os com seus conhecimentos e suas experiências, ampliando seu
universo intelectual, de tal forma que, ao término do trabalho em grupo, cada
participante possa ter avançado e aprendido mais com relação ao tema em pauta
do que se tivesse estudado sozinho.
A capacidade de
discutir e debater, superando a simples justaposição de ideias. Com efeito,
para que cada um exponha suas ideias a outros e depois se faça uma síntese
dessas contribuições não há necessidade de dinâmica de grupo. É só solicitar
que cada um coloque numa folha de papel suas ideias para que depois então as
reunamos em um texto comum. Portanto, para que tenhamos um trabalho de grupo é
fundamental a discussão, o debate, e chegar-se a um ponto mais avançado e
significativo da aprendizagem, para além daquele aonde se chegaria sozinho.
Aprofundar a
discussão de um tema, chegando a conclusões. Para isso supõe-se sempre uma
preparação prévia de estudo individual sobre o tema a ser discutido. Se, de um
lado, as experiências e os conhecimentos prévios dos alunos sobre o assunto
são interessantes para o debate, uma preparação imediata com leituras
indicadas pelo professor ou sugeridas pelo aluno com aprovação do professor é
fundamental para o êxito da dinâmica de grupo. A ausência dessa preparação faz
com que o encontro dos grupos, por vezes, se transforme num bate-papo sem
interesse e sem perspectiva de maiores aprendizagens. Pela mesma razão é
desaconselhável que se permita ao aluno que não preparou o material participar
da atividade de grupo. Ele poderá se aproveitar das contribuições dos outros,
mas não trará a sua própria colaboração e, em geral, atua mais no sentido de
dispersão do grupo. A sugestão, se o aluno não preparou o material proposto, é
no sentido de que o faça, em particular, durante o período da atividade de
grupo, a fim de se encontrar apto para aproveitar a continuidade das
atividades.
Aumentar
a flexibilidade mental mediante o reconhecimento da diversidade de
interpretações sobre o mesmo assunto.
Ter oportunidade de
desenvolver sua participação em grupos, sua verbalização, seu relacionamento em
equipe e sua capacidade de observação e crítica do desempenho grupal.
Confiar
na possibilidade de aprender também com os colegas (além do professor) e
valorizar os feedbacks que eles podem lhe oferecer para a aprendizagem.
Valorizar o trabalho em equipe, hoje uma das exigências para a atividade de
qualquer profissional.
Antes de descrever
algumas dinâmicas de grupo, acredito ser importante fazer ainda uma
consideração: na maioria das vezes os professores "mandam" que os
alunos façam uma atividade em grupo. Isso aconteceu no ensino fundamental, no
ensino médio e se repete no ensino superior. Em nenhum desses momentos houve
preocupação de que os alunos aprendessem a trabalhar em grupo, não lhes foi
ensinado um conjunto mínimo de regras necessárias para que um grupo possa
funcionar bem. E, então, quando as atividades grupais não saem a contento do
professor, este é o primeiro a dizer: "É, trabalho em grupo não adianta
mesmo. O melhor é dar aula expositiva!".
Certamente conhecemos
uma vasta literatura sobre dinâmicas de grupo que contém algumas regras básicas
para se realizar bem a atividade grupal. Mas penso que vale a pena, nesse
espaço, considerarmos ao menos algumas das regras básicas para o bom funcionamento
de um grupo:
Que todos os
participantes tenham muita clareza sobre qual é o objetivo daquela atividade em
grupo; onde se pretende chegar? Para garantir tal clareza, sugere-se que
alguém do grupo verbalize o objetivo e ele seja discutido até que se tenha um
consenso sobre ele. Se houver muita dificuldade, o professor deve ser chamado
para explicar melhor o objetivo. Esse ponto é fundamental para se evitar a
dispersão e o fato de cada aluno apresentar suas contribuições num sentido
diferente do outro.
Que se distribuam
junções entre os participantes:
Um coordenador que
esteja atento para que rodos possam se manifestar e a palavra não seja
monopolizada por um ou alguns dos membros do grupo, administre o tempo dado
para evitar que este se esgote e o grupo não chegue ao objetivo esperado,
quando necessário corte a palavra de alguém, estimule outro a participar, evite
repetições (ficar "amassando barro"), empreste dinamismo à discussão.
Sua função não é responder às questões ou dar as respostas esperadas, embora
possa e deva participar também como outro membro qualquer do grupo;
Um relator que anote
as manifestações dos participantes, alerte quando as repetições se fizerem
presentes, organize as ideias e primeiras conclusões de tal forma que facilite
a elaboração de um relatório final;
Um cronometrista para
acompanhar o tempo para a atividade, não permitindo que a tarefa fique
inconclusa por distração quanto ao tempo.
Que cada participante
do grupo se disponha a ouvir seu companheiro de tal forma que suas
contribuições sempre deem continuidade ao que se manifestou antes, procurando
levar o assunto adiante e não tomar uma atitude de repetição do que já foi
discutido anteriormente.
Que a discussão do
grupo em suas ideias principais e nas suas conclusões de grupo seja registrada
em um relatório por escrito ou em outra forma. Com efeito, esse relatório é a
materialização dos resultados obtidos e dos avanços do grupo na discussão
proposta. Quando ele não se faz, ou "não é solicitado pelo professor",
as ideias, discussões e conclusões ficam soltas no ar, o que dificulta perceber
se o objetivo do grupo foi alcançado ou não e até onde se avançou. O grupo, o
professor e os colegas dos outros grupos ficam sem este feedback, o que nos
impede de avaliar a aprendizagem.
Em qualquer dinâmica
de grupo, se observarmos ao menos essas poucas regras e as colocarmos em
prática vamos perceber, nós e os alunos, que o trabalho de grupo pode ser
muito eficiente e eficaz e ajudar de modo significativo a aprendizagem, a ponto
de os alunos se motivarem a se preparar anteriormente para não perdê-las. É o
que diz minha experiência de mais de 30 anos de docência no ensino superior.
Vamos considerar
alguns exemplos de dinâmicas de grupo:
Pequenos grupos
com uma só tarefa
Divide-se a classe em
pequenos grupos e se atribui a cada um a mesma tarefa, por exemplo, responder a
uma ou duas questões sobre um texto lido apresentadas pelo professor; estudar o
mesmo caso e dar-lhe uma solução; fazer uma síntese de um mesmo texto, e assim
por diante. Trata-se de uma forma bem simples de se começar a desenvolver com
uma classe a habilidade de trabalhar em equipe. Em geral, fecha-se a atividade
com a apresentação em plenário das tarefas realizadas por todos os grupos, com
base nas quais os próprios alunos e o professor fazem comentários que completam
as respostas, corrigem-nas, ou ampliam-nas.
Uma forma simples,
mas que dinamiza uma aula, é solicitar que no decorrer desta se leia um texto e
formem-se duplas. Para cada uma o professor entrega uma pergunta a ser
respondida em tempo curto, por exemplo, dez minutos. Findo o tempo, o professor
pede que cada dupla leia a sua pergunta, responda-a e em seguida ele pode abrir
para comentários do grupo todo e inclusive para sua participação. Poderá fazer
link com outras perguntas que virão, pedirá que quem tem questão próxima ou
parecida se apresente para lê-la com a devida resposta, e assim por diante. Ao
final de todas as respostas, a turma terá estudado o assunto de modo mais
proveitoso do que se apenas ouvisse o professor falar sobre ele.
Pequenos grupos
com tarefas diversas
A turma é dividida
em pequenos grupos, sendo que cada um realizará uma atividade diferente; em
geral, as atividades se completam ou se contradizem, entrando em conflito e
exigindo um debate posterior em seu fechamento. Por exemplo, sobre um assunto
qualquer o professor apresenta dois ou três artigos ou autores que pensam de
modo diferente e pede que um grupo resuma os pontos teóricos centrais de cada
autor ou de cada teoria; para outro grupo se pedirá que levante experiências
concretas referentes ao tema em discussão; a um terceiro, que aponte questões
importantes que merecem ser ouvidas, discutidas por toda a classe. O fechamento
dessa técnica deverá trazer a plenário os aspectos diferentes que, debatidos,
integrarão a compreensão do assunto e enriquecerão as experiências dos alunos,
facilitando um encaminhamento para aplicações concretas.
PAINEL INTEGRADO OU GRUPOS COM INTEGRAÇÃO HORIZONTAL E VERTICAL
Trata-se de uma
técnica que favorece em muito a participação dos alunos. Ela se realiza em três
momentos. No primeiro, divide-se a classe em grupos de cinco ou no máximo seis
elementos. Indica-se a tarefa a ser realizada e o tempo que poderá ser gasto
para tanto. Por exemplo, cada grupo deverá ter lido e discutirá um capítulo de
um livro. O resultado da discussão deverá ser anotado por todos, e
distribui-se entre os membros do grupo um número de l a 5 ou l a 6.
No segundo momento
reúnem-se os números l de todos os grupos, os números 2, 3, 4, 5, 6,
formando-se agora novos grupos que realizarão duas outras atividades: trocar
informações relatando o que aconteceu no primeiro grupo e fazer nova discussão.
A troca de informações é garantida pela presença de um componente que participou
da discussão do primeiro momento e trouxe para este grupo as conclusões do
grupo anotadas. As conclusões serão explicadas e discutidas e poderão até ser
modificadas pelo novo grupo à luz das outras questões que lhe serão trazidas.
A nova discussão
acontecerá ou mediante uma nova questão apresentada pelo professor, ou como
resultado dos debates sobre as questões já estudadas. Normalmente, o professor
sugere um ponto mais amplo que possa englobar as várias discussões e leve o
assunto para um âmbito mais geral.
O terceiro momento
será o do professor. Com efeito, durante o segundo momento, o professor se
colocará em algum dos grupos reunidos e ouvirá, sem participar da discussão, o
que estará sendo trazido de cada um dos grupos anteriores para esse novo grupo.
Dessa forma ele estará se informando sobre o que está sendo trabalhado em
todos os grupos. De posse dessa informação, o professor decidirá se deve
intervir e como intervir: corrigindo alguma informação incorreta, sublinhando
outras, ampliando terceiras, debatendo pontos que ficaram obscuros.
Para o bom
funcionamento da técnica é importante que o professor tome alguns cuidados de
organização: uma previsão adequada e um controle rígido do tempo de cada
momento, que o tipo de discussão a ser realizado possa ser acompanhado
igualmente por todos os participantes, que cada participante saia do primeiro
grupo com anotações sobre as conclusões que deverá levar para o segundo grupo,
uma vez que não se pode confiar apenas na memória. Aliás, o papel de levar
informações corretas de um grupo para outro manifesta a responsabilidade do
aluno para com o grupo.
Essa estratégia
apresenta algumas vantagens: exige a participação de todos, pessoal e grupai, e
desenvolve a responsabilidade pelo processo de aprendizagem próprio e do
colega; é uma técnica que pode ser usada com classes pequenas e com classes
numerosas: sempre serão cinco ou seis alunos trabalhando em grupo; o professor,
acompanhando qualquer grupo do segundo momento, saberá o que está sendo
informado em rodos os grupos e poderá completar, corrigir ou aperfeiçoar; é uma
forma de naturalmente se quebrarem "as panelas" existentes nas turmas,
levando aleatoriamente os alunos a se encontrarem com colegas junto aos quais
até esse instante não haviam trabalhado e que nem conheciam.
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