Instrumento de trabalho dos professores, ela nem sempre recebe os cuidados necessários
O sinal toca. A aula vai começar. Chegou a hora de “enfrentar” a turma do segundo ano do ensino médio. É a primeira semana após as férias e estão todos cheios de novidades para contar. Nesta situação é inevitável não ocorrerem as chamadas conversas paralelas. Do outro lado da sala, o professor. Para impor respeito e conseguir dar aula, não tem jeito, é preciso falar um pouco mais alto.
Qual professor não tem essa mesma história para contar? Mesmo que deseje, nestas condições, cuidar da voz é um pouco difícil. “Dar aula numa turma cheia de alunos barulhentos é bem complicado. Eu ficava rouca de tanto forçar a voz para pedir silêncio e ser ouvida”, conta a professora de História, Maria Alice das Neves, de Fortaleza (CE).
De acordo com a fonoaudióloga Maria Carolina Furlan, de São Paulo (SP), a rouquidão é o indício do que pode vir a se tornar um incômodo maior. “Sem cuidados ou tratamento, o mau uso da voz combinado com diversos fatores, como a temperatura inadequada do ar-condicionado e a falta de hidratação, pode levar ao nódulo vocal, popularmente conhecido como calo”, explica.
Antes que tivesse esse problema, a professora Maria Alice aderiu ao uso do microfone e da caixa de som em sala de aula. “Seja qual for o número de alunos, eu consigo projetar a minha voz e ser ouvida por todos, sem que precise ficar gritando. Assim a aula se torna até mais proveitosa”, destaca.
Evitar falar enquanto escreve no quadro negro também deve ser um hábito dos professores. Como está de costas para os alunos, é mais difícil propagar o som, exigindo o aumento no volume da voz e o inevitável desgaste.
Para quem enfrenta o choque de temperaturas entre o meio ambiente e o ar refrigerado da sala de aula ou geralmente é vítima dos efeitos climáticos em sua região, indica-se andar agasalhado de forma adequada e evitar exposições a correntes de ar contínuas.
Outra dica é ter sempre uma garrafa de água e dar uns goles durante a aula. “A água ajuda a manter a umidade na boca e a relaxar a musculatura da laringe. Vale lembrar que é necessário beber dois litros de água por dia”, enfatiza a fonoaudióloga e professora da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep), Regina Zanella Penteado. Os cuidados também se estendem à alimentação. É preferível comer alimentos leves, como frutas, verduras e legumes, e evitar gorduras e frituras. As bebidas excessivamente frias ou quentes também devem ficar de fora do cardápio do educador.
Uma boa noite de sono também influi na saúde vocal. É sabido que o organismo precisa, em média, de oito horas de repouso diário para recuperar as energias. Uma noite mal dormida, além de causar a sensação de cansaço no dia seguinte, deixa a voz rouca e fraca.
A postura inadequada também atrapalha na fala. O relaxamento dos ombros e a “posição de corcunda” dificultam a respiração e, portanto, demandam um esforço maior para propagar a voz. O professor precisa estar bem posicionado para facilitar a passagem do ar pelas cordas vocais. “Para se fazer entender sem precisar falar demasiadamente alto, é recomendável que se articulem bem as palavras e que se fale no ritmo normal, sem acelerar o discurso”, orienta Maria Carolina Furlan.
Os gestos também servem para confirmar o que está sendo dito e facilitar o entendimento. Se a sala de aula é muito grande, o professor pode explicar o assunto enquanto anda entre os alunos e criar outros recursos didáticos que permitam a interação com os estudantes. Dessa forma, envolve ainda mais os alunos com o assunto abordado e cria intervalos para repouso da voz durante a aula.
O cigarro também prejudica a saúde vocal. As toxinas presentes no tabaco irritam a mucosa respiratória e causam tosse, pigarro e o aumento de secreções.
Para quem acha que são muitos os cuidados a serem observados, o professor de português Eduardo Feitosa, de Jaboatão dos Guararapes (PE), tem a solução. “Basta observar um detalhe por vez. É difícil mudar todas as nossas atitudes que prejudicam a voz, mas, com a mesma paciência e dedicação que temos para o ensino, é possível conseguir. Afinal de contas, os principais beneficiados somos nós, os professores”, destaca.
Dicas para manter a boa saúde vocal
Evite gritar ou forçar a voz
Fale sem pressa, articulando bem as palavras
Evite falar enquanto escreve na lousa
Proteja-se das variações climáticas
Beba bastante água, inclusive durante a aula
Mantenha uma alimentação equilibrada
Durma bem
Posicione-se corretamente ao falar
Pratique exercícios vocais (ler em voz alta, treinar o timbre e a dicção)
Texto de Dulce Mesquita (editorial@humanaeditorial.com.br)